Conclusões do WEBINAR – Economia Feminista e Promoção de Cuidados no Local de Trabalho

Por

Artigo de Andrea Rodríguez Valdés, RIPESS Europe
Tradução de Sofia Mora, RedPES

No dia 23 de Setembro, a RIPESS Europe e a RedPES organizaram um webinário sobre Economia Feminista e Promoção de Cuidados no Local de Trabalho, no qual tivemos o prazer de ouvir María Atienza da REAS Rede de Redes de Espanha, Luciane Lucas dos Santos, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, e Josette Combes, da equipa da RIPESS Europe e da MES France. Este webinario foi assistido por 28 pessoas das nossas redes e outras convidadas.

Com o objectivo de apontar as opressões geradas pelo sistema capitalista e construir alternativas, organizámos este encontro que nos deu muitas ferramentas para aprendermos colectivamente a construir ambientes de trabalho mais seguros. Como Maria Atienza expressou, é importante salientar a aliança entre capital e cisheteropatriarquia para compreender como convergem estas duas opressões. Neste sentido, o trabalho reprodutivo – realizado principalmente por mulheres – que envolve a própria reprodução do trabalho e cuidados, é fundamental para a manutenção do sistema. Em suma, se o trabalho reprodutivo parar, tudo o resto pára. Assim, os corpos das mulheres, as suas sabedorias, práticas e desejos foram desenraizados em benefício da reprodução do capital e do crescimento.

Como resultado destas bases sobre as quais assenta o capitalismo, temos um trabalho doméstico completamente invisível e não remunerado. Como se fosse um iceberg, temos capacidade de ver apenas a esfera produtiva, onde se realiza o trabalho remunerado, as actividades mercantis que fazem parte da esfera pública e que têm sido tradicionalmente ocupadas por homens. Fica commumente invisibilizada a esfera privada, reprodutiva, onde situamos a sustentabilidade da vida, os cuidados, a construção de comunidades, etc., que, após uma divisão sexual do trabalho, tem sido ocupada principalmente por mulheres, e hoje em dia, especialmente por mulheres migrantes do Sul Global.

A economia feminista começa por expor as suas premissas apontando todas estas práticas, deixando claro que a economia vai além do mercado, que o trabalho, como diz María, são todas as actividades que sustentam a vida, que o cuidado está no centro, uma vez que não podemos viver sem ele, e que o género é uma categoria essencial de análise.

Neste sentido, a Economia só será Economia Social e Solidária (ESS) se for também feminista, pois ignorar esta análise é um enorme erro e não nos permite construir as ferramentas necessárias para enfrentar o sistema capitalista neoliberal que habitamos. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Apesar do facto de as nossas organizações se declararem feministas em teoria, ainda há trabalho a fazer quando se trata de o desenvolver na prática, e sobretudo de desenvolver este feminismo a partir de uma lógica interseccional que sublinha que existem muitas outras opressões que se intersectam, tais como raça, idade, classe, identidade de género ou orientação sexual, religião, etc. Que estão as nossas organizações a fazer para incluir todas estas diversidades? Que soluções está a ESS a criar actualmente para os migrantes? Para pessoas com diversidade funcional? Para pessoas trans que nem sequer são tidas em conta na lógica do sistema? Luciane Lucas dos Santos colocou-nos todas estas questões na sua intervenção, abordando os limites do Feminismo dominante (ocidental branco, burguês) para desenvolver uma verdadeira Economia Feminista.

Finalmente, Josette Combes, seguindo esta lógica, e guiada pela sua longa experiência de trabalho em organizações de Economia Social e Solidária, abordou a importância de transferir todas estas questões para os nossos locais de trabalho, começando a mudança em nós próprios através da reformulação da cultura de trabalho do ponto de vista feminista. Entre outras coisas, Josette mencionou a importância de actividades de sensibilização, lançamento de campanhas internas e externas das nossas organizações contra o sexismo, racismo, LGBTIQ+fobia, de reflexão sobre como os processos de selecção de novo pessoal são realizados na organização, se existe uma recolha de dados para monitorizar a igualdade dentro da organização, etc.

Em suma, este encontro, que fez parte do projecto 4 Care Work Environment (Para espaços de trabalho mais feministas e centrados nos cuidados) do programa Rethink da FundAction, permitiu-nos destacar todas estas reflexões e continuar a avançar para uma economia social, solidária, feminista e anti-racista.

Com a colaboração de: REAS Red de Redes, MES France, CSA Gralha, Feminismos sobre Rodas, Instituto Politécnico, Casa da Esquina, Aldraba e outros investigadores.

Na versão original, artigo da Ripess 👇

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